48077 - CANDOMBLÉ E A SAÚDE MENTAL DA POPULAÇÃO NEGRA ANA CATARINE GUIMARÃES CASTRO - UFRB, DIANA ANUNCIAÇÃO SANTOS - UFRB, YURI MOURA MATA MARTINS - UFRB
Contextualização O processo de colonização, estruturou a forma de organização social e construiu subjetividades através da violência racial – racismo - do capitalismo e do sexismo. Uma cosmovisão ocidentalizada que se constitui através de valores pautados na supremacia branca e no patriarcado. Diferente, não em seu oposto, mas em sua dimensão complexa, simbólica, espiritual, sensorial e múltipla de possibilidades e caminhos, está a cosmopercepção africana. O Candomblé faz parte da materialidade dessa cosmologia, que tem cuidado da saúde física, mental e espiritual do povo negro em diáspora. A existência do candomblé além de significar a resistência de um povo e suas práticas de cuidado, traz uma produção de sentidos, uma compreensão de mundo e de si que é parte de um todo, numa leitura que se dá anterior a sua existência material, aquilo que compõe a sua ancestralidade, sua família, a natureza, a integralização do ser. O ser, este fragmentado e desumanizado pela experiência da maafa, e na sua antagonia, a sua reconexão, inteiro e conectado com o todo.
Descrição Não há tantas produções sobre o candomblé na clínica psicoterapêutica. Mas é antiga a ciência do pensar a psiquê através dessas encruzilhadas. . É a partir da experiência de uma psicóloga negra e candomblecista que esses olhares são aguçados e trazidos ao relevo. Essas observações se dão pela experiência do atendimento clínico racializado com bases fundamentadas na Psicologia Preta e Psicologia Africana.
Período de Realização Esse relato de experiência se dá entre julho de 2022 a julho de 2023, período este que se circunscreve com a entrada e pesquisa do mestrado.
Objetivos Essa escrita tem objetivo de contribuir com as produções já presentes no campo da saúde, saúde mental e do candomblé, a partir de estudos decoloniais, afrocêntricos e experiências cruzadas que contam estórias de tecnologias ancestrais de saúde, reconectando uma dimensão que se sobrepõe na clínica com a pessoa negra, a espiritualidade, ainda negligenciada pela psicologia e a influência disso no processo de cuidado, orientação e compreensão sobre a saúde e os adoecimentos psíquicos.
Resultados A medida em que a pessoa negra conta e reconta a sua história, entra em contato com as fissuras provocadas pelo racismo, vai compreendendo a partir da identidade que já revelada para si, de sujeito negro, ou ainda em descoberta, o reconhecimento do que marcou a sua identidade no mundo, e o que marca ainda na experiência do agora. Isso implica em reconhecer que ser negro, essa experiência coletiva, ainda que individual, se reproduz de maneiras simbólicas e literais cenários de subalternização, tanto quanto rememora e pratica modelos de cura e insubmissão. O candomblé reconta a estória do sujeito negro a partir da potencialidade da sua ancestralidade, do que se transfere através da linhagem material e espiritual e situa o corpo negro não mais como objeto, mas como deidade e isso produz saúde.
Aprendizados A interseccionalidade possibilita caminhar entre as entranhas da estória do sujeito, contribuindo a localizá-lo historicamente nesse tempo, sua identidade. E a Psicologia Africana o remonta. Ainda que juntar os pedaços tenha seu tempo e o seu próprio processo de re-orí-entação.
Análise Crítica Muitos e muitas intelectuais já produziram sobre a importância de compreender a complexidade da constituição subjetiva da pessoa negra em diáspora. A Psicologia como campo que pensa o humano, seu comportamento, sua psiquê, seu inconsciente tem repensado a partir de que cosmologia serve pensar o humano negro. As teorias feministas negras, as teorias decolonias e as teorias afrocêntricas tem contribuído para analisar a experiência negra como agenciadora das suas próprias produções intelectuais e análises do eu.
|