48067 - ESTUDANTES PROUNISTAS COMO AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO DO ENSINO NO CURSO DE MEDICINA: EXPERIÊNCIAS EXITOSAS EM UM CURRÍCULO INTEGRADO VANESSA CRISTINE RIBEIRO FREDRICH - FPP, LIVIA SISSI GONÇALVES SOUZA PIECHNIK - FPP, TAYCIELE SCHENKEL QUINTANA BIZINELLI - FPP, GABRIELA PERCILIO DE ARAUJO - UFPR, LEONARDO DE SOUZA CARDOSO - FPP, GISELE SOUZA DA SILVA - FPP, GABRIEL CUNHA ALVES - FPP, JOÃO MOISÉS OLIVEIRA LAPOLA - FPP, PAULA CRISTINA YUKARI SUZAKI FUJII - FPP, LEIDE DA CONCEIÇÃO SANCHES - FPP
Contextualização Aspectos históricos e econômicos explicam a perpetuação da Medicina como um curso destinado à ocupação por pessoas brancas de classe econômica elevada. No Brasil, o processo de colonização, escravização e extinção de povos originários propiciou o desenvolvimento de um olhar eurocêntrico influenciado pelo positivismo, privilegiando a medicina ocidental em detrimento de práticas de origens africanas e indígenas, com repercussões no perfil dos trabalhadores da saúde e práticas de cuidado atuais. Apesar de chamadas “minorias”, pessoas negras, indígenas, lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, assexuais e mais (LGBTQIA+), pessoas com deficiência, privadas de liberdade e em situação de rua, são majoritárias em muitos cenários e a composição do corpo docente e discente nos cursos de Medicina não reflete essa diversidade. Para abordar essa questão, as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2014 incluíram a saúde desses grupos como requisitos na formação dos profissionais de saúde. Além disso, criaram-se políticas de ampliação do acesso ao ensino superior, como a Lei de Cotas (nº 12.711/12), o Programa Universidade Para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior (FIES). Neste contexto, os cursos de medicina vêm sofrendo mudanças que visam à inclusão social e à transformação da formação em saúde.
Descrição Trata-se de um relato de experiência sobre a contribuição de estudantes beneficiários do ProUni na transformação do currículo médico.
Período de Realização 2014 até o presente momento.
Objetivos Evidenciar o papel de estudantes de Medicina prounistas na construção de um currículo inclusivo em um curso de Medicina filantrópico do sul do país.
Resultados A instituição iniciou o curso de Medicina em 2014 e atualmente tem 127 estudantes do ProUni, de um total de 620 matriculados. O currículo inclui uma unidade longitudinal do primeiro ao oitavo período chamada Integração Ensino Comunidade, que enfatiza a aprendizagem prática. As experiências são aprofundadas durante o internato, especialmente em Saúde Coletiva/Medicina de Família e Comunidade/Internato Rural. Neste contexto, iniciou-se a problematização da saúde de grupos não hegemônicos, impulsionando e apoiando a discussão nas demais unidades curriculares e nas ações de extensão. Dentre as atividades desenvolvidas regularmente, citamos a “Mesa da Diversidade”, composta por docentes, discentes, trabalhadores do SUS e participantes de movimentos sociais para debater a neurodiversidade, saúde da população negra, saúde indígena, população privada de liberdade e LGBTQIA+. A intersecção entre gênero, raça e classe é problematizada desde o primeiro período com visita à Casa da Mulher Brasileira. A violência obstétrica e bioética nos direitos reprodutivos são abordadas em diversos períodos, além da saúde e o adoecimento de pessoas LGBTQIA+, contemplando troca de vivências com a população travesti. No internato médico, retoma-se a discussão do racismo enquanto determinante da saúde da população negra e o debate sobre políticas públicas de saúde para populações vulneráveis. Na Curricularização da Extensão, em que o estudante desenvolve ações comunitárias, realizou-se a elaboração de cartilhas para profissionais da saúde sobre a saúde da mulher LGBTQIA+ e materiais educativos inclusivos a imigrantes haitianos sobre doença falciforme. Esse enfoque no ensino tem-se refletido em pesquisas nos trabalhos de curso (TC) e dissertações de Mestrado, que já abordaram racismo na medicina, população imigrante, população LGBTQIA+, população privada de liberdade, população em situação de rua, elitismo na medicina, direitos sexuais e reprodutivos, transtorno do espectro autista, deficiências, dentre outros. Mais recentemente, o processo de avaliação de curso, que envolveu docentes, discentes e coordenação, evidenciou a “Saúde do trabalhador e de populações invisibilizadas”, constituindo uma nova unidade curricular a ser implantada.
Aprendizados Além dos debates previstos em diversas unidades curriculares, muitas atividades descritas são organizadas pelos próprios estudantes, por meio de monitorias, ações de curricularização da extensão e TC. Não por acaso, observa-se que o interesse e envolvimento nessas atividades parte majoritariamente dos estudantes ou docentes prounistas, negros e LGBTQIA+ da instituição, com influência significativa na formação e transformação de toda comunidade acadêmica.
Análise Crítica Alguns fatores que dificultam a permeabilidade dessas discussões na Medicina incluem a falta de sensibilização e despreparo de alguns atores em relação ao tema. A presença dos estudantes prounistas e bolsistas, inclusive participando da construção e transformação curricular, aliado a um corpo docente composto por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, incluindo das ciências humanas, diverso nas faixas etárias, gênero e raça/cor é fundamental para permitir o ensino curricular sobre saúde de grupos invisibilizados de forma integrada e ética na Medicina.
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