Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC3.1 - Práticas formativas e contribuições das CSHS

47117 - VIVÊNCIA COMUNITÁRIA ENQUANTO REFLEXÃO E TRASNFORMAÇÃO DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM SAÚDE
EMILLE SAMPAIO CORDEIRO - UFCA, THASSYANE SILVA BORGES YOKOYAMA - UFCA, ANA LINDA CARDOSO ALVES - UFCA


Contextualização
A formação acadêmica de trabalhadores da saúde tem o desafio de apresentar as contradições da realidade e preparar os profissionais para o cuidado, promoção e produção da saúde perpassando a compreensão da determinação social do processo saúde-adoecimento e o comprometimento com as transformações sociais necessárias. Neste intuito, o Estágio de Vivência em Saúde do Campo nos permite adentrar em uma realidade distinta dos estudantes do curso de medicina da Universidade Federal do Cariri e vivenciar as demandas de saúde em consonância com a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, oportunizando o contato e reflexão sobre modos de estar no mundo e cosmovisões distintas.

Descrição
O Estágio de Vivências em Saúde do Campo é organizado pela Liga de Saúde Comunitária do Cariri, vinculada a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Cariri. A vivência aqui relatada aconteceu na comunidade rural no distrito do Baixio das Palmeiras, município de Crato/Ceará, sendo recepcionado na Casa de Quitéria, casa de uma das primeiras moradoras do local e que foi preservada pela comunidade enquanto equipamento social, mais do que um espaço, agora é cenário de difusão da cultura popular, tornando-se um território de resistência da memória e da ancestralidade. Metodologicamente a vivência foi organizada com a recepção dos estudantes pelas lideranças comunitárias, apresentação da história de Quitéria e da Casa de Quitéria e sua estrutura, vinculando a história da comunidade, a exemplo da produção e armazenagem de farinha a partir dos roçados de mandioca da comunidade, visita a agrofloresta cultivada na área de terreiro da casa com dialogo sobre as propriedades medicinais e agroecológica das plantas, seguida de roda de conversa sobre memória e território, esta em parceria com o projeto Museu Virtual Casa de Quitéria e encerramento com apresentação do Maneiro Pau, manifestação cultural tradicional da região do Cariri cearense.

Período de Realização
A vivência aconteceu no dia 03 de junho de 2023, dentro de um calendário de atividades, ao longo do ano, que também contemplam vivências em comunidade quilombola, comunidade indígena aldeada, comunidade rural acampada e assentada da reforma agrária, dentre outras.

Objetivos
Vivenciar a realidade de comunidade do campo para compreender suas especificidades, necessidades em saúde e suas expressões da determinação social da saúde.

Resultados
Conhecer a comunidade e o que permeia culturalmente a história desse território possibilitou experienciar um novo espaço de aprendizagem, movas formas de construção do saber, em que o processo de produção da saúde é formado no cotidiano, na relação e preservação da natureza, na organização e reflexão do plantio e da colheita, propiciando aos discentes vivenciarem a articulação indissociável entre teoria e prática. A vivência propiciou a interação direta com os membros da comunidade, permitindo a troca de saberes e experiências, onde os estudantes tiveram a oportunidade de ouvir as histórias de vida, as demandas e os anseios da população, o que contribui para uma visão mais ampla e integral da saúde. A casa representa a resistência feminina, a solidariedade e a força comunitária. Através dessa conexão com o passado, podemos repensar nossas relações sociais e ambientais, valorizando a cultura, promovendo a educação, a saúde e os direitos humanos.

Aprendizados
Em avaliação realizada pelos discentes, eles relataram que essa interação fortalece a empatia e o respeito às diferenças, essenciais para uma prática médica ética e comprometida, bem como puderam perceber os vínculos e memórias que os relacionam com o espaço, ambiente e a coletividade. Referiram, ainda, sobre o estimulo a criação de vínculos entre os estudantes - futuros trabalhadores da saúde - e a comunidade, além de contribuir para compreensão dos processos de saúde e adoecimento de um dado território, o quanto as questões culturais e ambientais determinam os modos de levar a vida desta população.

Análise Crítica
Vivências possibilitam refletir sobre a importância de se conhecer a diversidade e a pluralidade dos indivíduos e de suas formas de organização coletivas, ampliando a compreensão dos fatores envolvidos na produção da saúde e no trabalho em saúde. Os convívios em territórios organizados e com preservação de tradições comunitárias são resistências aos epistemicídios cotidianos da ciência moderna ocidental, possibilitando reflexão crítica sobre a formação biomédica hegemônica na saúde. Com a vivência é oportunizado, ainda, a construção de uma consciência crítica sobre a identificação e atenção as necessidades em saúde, o sistema de saúde e os desafios enfrentados pelas comunidades. Experiências como esta promovem o desenvolvimento de competências, a empatia e o respeito às diversidades, além de comporem a formação crítica e reflexiva comprometida com a defesa da vida e incentivando a questionar as estruturas e as políticas de saúde existentes, buscando formas de transformação e de superação das contradições da realidade.