Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC25.3 - Autonomia e saúde mental: alternativas terapêuticas e contra-hegemônicas para a cidadania do cuidado

47076 - POTENCIALIDADES E DESAFIOS DAS ATIVIDADES VOLTADAS PARA A REABILITAÇÃO NO ÂMBITO DO NASF
THALIA CRISTINE NOVAES DE VASCONCELOS - UFBA, NAIRA LAÍS ARAÚJO DE JESUS - UFBA, ANA FLÁVIA DOS SANTOS CÔRTES - UFBA, VLADIMIR ANDREI RODRIGUES ARCE - UFBA


Apresentação/Introdução
A reabilitação, por muito tempo, ou era inexistente, ou concentrava-se apenas nos serviços especializados e centralizados nos sistemas de saúde. Atualmente, porém, faz parte do escopo de práticas da Atenção Primária à Saúde (APS), onde os Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) tornaram-se fundamentais para o desenvolvimento e ampliação desta ação. Entretanto, este processo tem sido muito dinâmico e diverso em várias realidades, atravessadas por contingências e potencialidades que caracterizam não apenas o quanto ela tem sido desenvolvida, mas também como este processo tem sido conduzido neste nível de atenção.

Objetivos
Com o intuito de contribuir para a sistematização destes elementos, buscou-se identificar as principais atividades voltadas para a reabilitação e as potencialidades e desafios que os profissionais de uma equipe NASF-AB de uma Unidade de Saúde da Família em Salvador, Bahia, enfrentam no trabalho, e que impactam na oferta do cuidado de reabilitação realizada pela APS.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória do tipo estudo de caso, parte de um estudo guarda-chuva que busca compreender como se estruturam as práticas de reabilitação no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Foram realizadas entrevistas remotas, no período de julho/2020 até fevereiro/2021, em profundidade com três profissionais da equipe NASF de uma Unidade de Saúde da Família em Salvador, BA, sendo duas terapeutas ocupacionais e uma fisioterapeuta. As falas foram transcritas e organizadas em uma planilha, onde foram analisadas, tendo como enfoque principal a identificação e análise das atividades de reabilitação desenvolvidas e dos principais desafios e potencialidades para executá-las.

Resultados e discussão
Foram identificados cinco tipos de atividades desenvolvidas para o campo da reabilitação: atividades assistenciais; atividades no território; atividades de planejamento e gestão; atividades educativas e de vigilância; atividades de capacitação profissional. Em relação às atividades assistenciais, observou-se: visitas domiciliares a pacientes com dificuldade de mobilidade e grupos terapêuticos voltados para a reabilitação física e cognitiva. Sobre as atividades no território, mencionam: a oferta de suporte social para benefícios governamentais e comunicação das atividades na comunidade por meio de jornais e cartilhas informativas. Quanto às atividades de planejamento e gestão, identificou-se as reuniões gerais com a eqSF (Equipe de Saúde de Família), além de reuniões para análise de situação de saúde. Acerca das atividades educativas e de vigilância, referem datas temáticas, ações com o PSE (Programa Saúde na Escola), sábado do homem, sala de espera e consultas de puericultura. No que diz respeito às atividades de capacitação, pontuam as ações de apoio matricial às eqSF. As profissionais relatam muitos desafios persistentes quanto à realização das atividades supracitadas, quais sejam: relação conflituosa com a gestão; desvalorização profissional; processo de formação acadêmica e profissional insuficiente para o trabalho no NASF; carência generalizada de recursos humanos, estrutura física e insumos; desconhecimento acerca de como fazer reabilitação na APS e uma demasiada pressão exercida sobre os profissionais para que ofereçam apenas uma assistência com perfil ambulatorial. Ademais, referem que há necessidade de supervisão do trabalho e educação continuada direcionada aos profissionais da unidade. Por fim, relata-se a dificuldade de estabelecer um cuidado longitudinal, visto que a procura da população pela unidade tende a ocorrer com a situação de saúde já agravada, implicando na redução das possibilidades de reabilitação, restringindo-se a adaptações e orientações. Contudo, algumas potencialidades foram apresentadas como a possibilidade de trabalhar em equipe, de forma coesa e com espaços conjuntos para planejamento, bem como o potencial do território em si que enriquece o cuidado.

Conclusões/Considerações finais
Os resultados encontrados demonstram que o trabalho em equipe e os atributos do território potencializam o cuidado de reabilitação na APS, entretanto, ainda se apresentam inúmeros elementos dificultadores a este cuidado. Desse modo, a fim de enfrentar esses desafios, considera-se importante uma formação profissional voltada para o SUS (Sistema Único de Saúde) para assim superar a lógica de fragmentação do cuidado e fortalecer o trabalho interdisciplinar. Ademais, romper com o atual subfinanciamento do sistema de saúde e investir no processo de educação permanente são fatores fundamentais para a construção de um cuidado integral no nível de Atenção Primária à Saúde com vistas ao fortalecimento do SUS e da garantia de direitos à PcD. Esses aspectos devem ser considerados na atual conjuntura política que traz consigo a implementação das equipes multiprofissionais de Atenção Primária à Saúde a fim de não reduzir atividades voltadas para reabilitação ao modelo biomédico.