47713 - SAÚDE, TRABALHO E BEM VIVER: COMO DESATAR NÓS, PRODUZIR TRAMAS E CONSTRUIR CAMINHOS COM MULHERES MIGRANTES E REFUGIADAS? ÉLIDA HENNINGTON - FIOCRUZ, SIMONE PAULON - UFRGS, LISIANE AGUIAR - UFRR, DÁRIO PASCHE - UFRGS, SUZE SANT'ANNA - FIOCRUZ, FLÁVIO REZENDE - FIOCRUZ, LUANA AZEVEDO - FIOCRUZ, JULIANA COUTINHO - MINISTÉRIO DA SAÚDE
Apresentação/Introdução Estima-se a existência de 1,3 milhão de migrantes internacionais residindo no Brasil, principalmente pessoas negras e indígenas oriundas de países das Américas Central e do Sul e de África. Levando-se em conta o contingente e a pluralidade dos grupos migrantes e suas inúmeras nacionalidades e origens étnico-raciais e culturais, observam-se obstáculos no acesso e atenção à saúde dessa população. Recaem sobre as mulheres fatores de vulnerabilização ainda maiores já que, além das dificuldades inerentes aos processos de desterritorialização, somam-se sobrecargas das atividades domésticas, dos cuidados com filhos e familiares, da precarização dos vínculos de trabalho, entre outras violências de gênero operadas pelas culturas patriarcais, coloniais e racistas de muitos países.
Objetivos O estudo toma a questão da Saúde, Trabalho e Bem Viver como foco, estruturando-se sob o objetivo geral de construir proposta metodológica que favoreça a interculturalidade, a inclusão e participação dos sujeitos na produção de conhecimento e compreensão das estratégias de produção de saúde e resistência às opressões de gênero, raça e classe de mulheres migrantes e refugiadas nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Boa Vista.
Metodologia Dentre os prinicipais desafios do estudo está a implementação de métodos que, fugindo da lógica extrativista, favoreçam a inclusão e a participação das mulheres imigrantes no planejamento e desenvolvimento da pesquisa. Sustentado nas abordagens metodológicas da Pesquisa-Intervenção Participativa e Cartografia, a pesquisa parte da premissa ético-política de “planejar-executar-avaliar com”, buscando a instauração de processos gestionários coletivos. Propõe-se superar as tradicionais dicotomias entre sujeito-objeto, ação-reflexão, pesquisador-pesquisado, características das metodologias positivistas que ao refletirem uma concepção dualista de mundo, aportam para o campo científico a reprodução de hierarquias sociais traduzidas em conhecimentos acadêmicos supostamente portadores de verdades. No contraponto dessa perspectiva, as pesquisas de caráter participativo partem de um olhar crítico à realidade social, assumem a posição de poder inerente ao pesquisador acadêmico e intentam reduzir as desigualdades e distâncias entre saberes a partir da valorização dos diferentes olhares. No horizonte utópico das pesquisas participativas, as fronteiras entre sujeitos que investigam e sujeitos que vivenciam os processos em foco nas investigações são borradas e todos os participantes formam-se e tornam-se pesquisadores ao longo do processo.
Resultados e discussão A pesquisa intervenção cartográfica pode lançar mão de variados procedimentos de investigação, desde que sejam pactuados com os sujeitos no percurso de pesquisa e resultem em incremento do processo participativo. As estratégias e tecnologias incluiram desde a produção de materiais informativos e questionários eletrônicos visando uma primeira aproximação das mulheres, até a construção de matrizes de planejamento, acompanhamento e avaliação da pesquisa, dentre outras. Cada etapa do processo está sendo acompanhada por uma Matriz Lógica (ML), uma Matriz Afetiva (MA) e um Quadro-Referência de Acompanhamento Avaliativo Transversal (QRAAT). A ML contemplou etapas, objetivos, objetos, ações, procedimentos, produtos e resultados. Já a MA incluiu etapas, sonhos e desejos, inquietações e incômodos, surpresas e intuições para o porvir. O QRAAT foi composto por três dimensões: 1- Dinâmica da Pesquisa-Intervenção; 2- Sujeitos da Pesquisa-Intervenção e 3- Repercussões e Efeitos da Pesquisa-Intervenção. Essas ferramentas foram propostas para serem submetidas, apreendidas, aplicadas e validadas pelo conjunto de participantes. O método é vivo e mutável e todas essas tecnologias e mais algumas propostas que surjam a partir da cultura e experiências dos grupos podem, em algum momento do percurso investigativo, tornarem-se instrumentos do trabalho. Importa à equipe de pesquisa manter presente a direção ética com que esses instrumentos são utilizados e o debate aberto sobre os cenários, as possibilidades e momentos de usá-los, com custos e benefícios que cada ferramenta tem a ofertar, gerando impasses e inflexões.
Conclusões/Considerações finais A escolha de métodos e técnicas de pesquisa deve ser pautada pelo compromisso de promover relações de comunicação e interação horizontalizadas que possam estimular a compreensão da alteridade e o respeito entre os diferentes grupos e culturas. Ultrapassar barreiras subjetivas, de idioma, étnico-raciais e simbólicas implicou numa postura crítica de reconhecimento da cidadania das participantes, do direito de exercer sua identidade originária e cosmovisão, buscando desconstruir mecanismos racistas, preconceituosos e discriminatórios e evitar a todo custo a marginalização do outro e imposição da cultura hegemônica, compreendendo as culturas e, portanto, os modos de ser e estar no mundo como fenômenos dinâmicos e sempre desafiadores.
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