02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC12.1 - Epistemologias da Saúde desde o Sul: Virada decolonial e construção compartilhada de conhecimento |
46143 - MATRIZ AVALIATIVA DO VÍNCULO LONGITUDINAL (MAVIL) NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) NO SUS: MÉTODO DE AVALIAÇÃO PARA USO NO NÍVEL LOCAL ELENICE MACHADO DA CUNHA - EPSJV/FIOCRUZ, GABRIELA RIEVERES BORGES DE ANDRADE - UFGD, JOSÉ MUNIZ DA COSTA VARGENS - FIOCRUZ, MARCIO CANDEIAS MARQUES - EPSJV/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução A Matriz Avaliativa do Vínculo longitudinal (MAVIL) vem sendo desenvolvida com o propósito de fortalecimento da APS e da institucionalização da avaliação no SUS. Tem por referência especificidades do modelo de APS brasileiro. Em seu desenvolvimento e aplicação busca-se envolver profissionais da gestão e da atenção em prol de processos participativos. A expectativa é de instrumental simples na sua aplicação e na compreensão dos resultados, que identifique elementos passíveis de intervenção pelos profissionais e gerência das equipes locais. A MAVIL ampara-se no conceito de Vínculo longitudinal, compreendido como “relação duradoura entre pacientes e profissionais da equipe da APS, que se concretiza na utilização da Unidade Básica de Saúde (UBS) como fonte regular de cuidados ao longo do tempo, para os vários episódios de doença e para os cuidados preventivos”. Esse conceito constitui-se de três dimensões: 1) reconhecimento da equipe de APS/UBS como fonte regular de cuidados, 2) relação interpessoal profissionais de APS/paciente e 3) continuidade da informação. Dessas dimensões derivam 12 critérios e 21 indicadores que possibilitam mensurar o alcance do vínculo longitudinal a partir de duas fontes de informação: entrevista com o paciente para as dimensões 1 e 2 e revisão do respectivo prontuário para a dimensão 3. Na literatura sobre avaliação de serviços de saúde são frequentes estudos dedicados à adaptação transcultural de instrumentos desenvolvidos em outros países, seguido da análise de reprodutibilidade. No caso da MAVIL, que passou por validação de construto, conteúdo, aparência e validação estatística, a adaptação transcultural não se aplica pois foi construído a partir das premissas do modelo de APS brasileiro. Contudo, pela dimensão geográfica e diversidade cultural do Brasil, faz-se necessário a aplicação em diferentes contextos geográficos em continuidade ao processo de validação.
Objetivos Discutir o potencial da MAVIL em contribuir para a melhoria da APS no SUS, subsidiando gestores e profissionais na busca por soluções referentes às dificuldades encontradas na constituição do vínculo longitudinal.
Metodologia A sensibilidade de um instrumento avaliativo pode ser medida a partir da diferença em um indivíduo ou objeto ao longo do tempo ou entre dois indivíduos ou objetos no mesmo tempo. Dito isso, a aplicação da MAVIL em UBS de dois municípios de diferentes regiões, Rio de Janeiro, na região Sudeste e Dourados, na região Centro-Oeste, consistiram em estudos transversais para fins de análise da aplicabilidade e também do grau de sensibilidade a partir da comparação entre duas UBS do mesmo município e entre os municípios. O primeiro resultado do método é a soma das pontuações obtidas para a totalidade dos itens da matriz, para as três dimensões e para os 12 critérios. A partir dessas pontuações, interpretadas em percentual, têm-se o grau de vínculo de cada UBS e discute-se as diferenças encontradas. Teste estatístico possibilitou comparar as diferenças e analisar o grau de sensibilidade da matriz para as duas aplicações.
Resultados e discussão Para o total da MAVIL, nas unidades do Rio de Janeiro os percentuais alcançados foram similares, em torno de 50%; em Dourados houve diferença entre as unidades com percentuais de 70% e 50%. Para a dimensão 1 - reconhecimento da equipe/UBS como fonte regular de cuidados, das quatro UBS, três tiveram resultados equivalentes. No que tange à relação interpessoal profissional/paciente, as UBS do território de saúde do Rio de Janeiro apresentaram valores próximos, cerca de 52%, e distribuição similar; enquanto que as duas UBS de Dourados apresentaram diferenças significativas, com desempenho abaixo de 50% para uma das unidades. Para a dimensão 3 - continuidade da informação, o desempenho foi similar entre as UBS do mesmo município e relativamente baixo em ambas as localidades, em especial para os seguintes critérios: registro de dados do exame físico e registro dos exames laboratoriais. Os resultados atestaram a sensibilidade do método para apontar diferenças de vínculo longitudinal entre UBS.
As aplicações da MAVIL identificaram similaridades e diferenças no comportamento das dimensões e critérios nas UBS e localidades. No que tange à dimensão continuidade da informação, as pontuações foram baixas e similares nas duas localidades, o que suscitou a questão: os princípios e especificidades do modelo de APS do SUS são considerados nos sistemas de prontuário eletrônico do paciente? Hipóteses explicativas precisam ser exploradas tanto no que tange à plataforma tecnológica adotada quanto ao processo de trabalho das equipes.
Conclusões/Considerações finais O método MAVIL, ao identificar situações que se constituem em dificuldades para o vínculo longitudinal nos serviços de APS, mostra-se útil para subsidiar profissionais e gestores na solução dessas dificuldades.
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