Outras Linguagens

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
OL2 - Potencialidades e desafios das linguagens das fotografias e da escrita de memórias para pensar o cuidado como práxis decolonizadora

47552 - DE BRAÇOS ABERTOS PARA A LOUCURA: UMA CONSTRUÇÃO DE SONHOS E LIBERDADE
ROMILDO DA SILVA CAVALCANTI - SECRETARIA DE SAÚDE DA PREFEITURA DO RECIFE, CARLA PINHEIRO MACIEL - SECRETARIA DE SAÚDE DA PREFEITURA DO RECIFE


Processo de escolha do tema e de produção da obra
O Movimento da Luta Antimanicomial caracteriza-se pela humanização no cuidado com os indivíduos com sofrimento psíquico, luta pelo exercício dos direitos à liberdade e marca a transformação da assistência psiquiátrica brasileira, propondo que o atendimento seja feito em serviços substitutivos ao modelo asilar, no qual predominava a lógica do isolamento institucional. Como fruto deste movimento, a Reforma Psiquiátrica resultou na aprovação da Lei n° 10.216 - conhecida também como a “Lei Paulo Delgado”.

Objetivos
Evidenciar a participação social no ato da luta antimanicomial;
Destacar o embasamento dos movimentos sociais inclusive em suas manifestações culturais e artísticas.



Ano e local da produção
Nos dias 18 de maio dos anos de 2022 e 2023 na cidade do Recife (locais das imagens: Praça do Derby e na avenida Agamenon Magalhães)

Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso
O sonho do cuidado humanizado em liberdade através dos dispositivos de saúde no território serviu de base para a organização do movimento. Observa-se, a partir disso, essa construção em sociedade para concretização desse sonho coletivo.
É importante destacar o embasamento dos movimentos sociais inclusive em suas manifestações culturais e artísticas. Estes elementos podem ser usados para representar e expressar a subjetividade,fortalecendo as identidades singulares e subsidiando a união de um coletivo de pessoas com objetivos semelhantes. Através das fotografias do “PasseAto” observamos desde elementos artísticos da cultura popular à representação artesanal e referências a importantes para a luta antimanicomial, como Nise da Silveira e Bispo do Rosário, por exemplo.
Nesse aspecto de pertencimento, o movimento propõe-se ao acolhimento dos usuários e ao seu cuidado na sociedade. “Pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é uma doença”, escrito num dos cartazes expostos na manifestação. Reforça-se, à vista disso, o cuidado em liberdade. Elemento destacado também com a utilização de asas como adorno por um dos usuários, que por meio do abraço estabelece a ideia de acolhimento - externo às prisões, evidenciados na fotografia.
Além disso, as imagens destacadas pelos autores relatam além do acolhimento por meio da união física, pelo contato do abraço, elas abarcam a fala / escrita e a oportunidade de abertura ao diálogo em uma questão: “Que palavras vestem a sua história?”, na imagem, reflete-se que o espaço de fala também está inserido nesse cuidado. Objetiva-se, portanto, um ato de reconstrução de um ambiente anteriormente silenciado. “Me conte uma loucura” expressa-se, na imagem, em um manto costurado e vestido pela mulher com os braços abertos.
Salienta-se que não há como falar de cuidado em saúde, sem o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, nessa manifestação, a fotografia em destaque fornece elementos simbólicos e metafóricos da tatuagem, perene, que estabelece a ideia de contribuir para a história do indivíduo. Riscam-se a pele dos corpos marcados pelas lutas e picham-se as estruturas das ruas e da sociedade com a marca da saúde pública brasileira.
Dessa forma, conclui-se que os serviços e equipes inseridos nos territórios podem auxiliar o usuário a ter uma maior autonomia sobre sua vida e atuar na criação do seu projeto terapêutico e expressão da sua singularidade.
Por fim, o compartilhamento de informações entre profissionais e usuários estabelece uma ponte fundamental para fortalecimento da relação terapêutica e integração do usuário na rede de saúde. Com isso, construções de cuidado o usuário poderá ajudar a formular sua proposta terapêutica para que possam partilhar o seu tratamento de forma ativa e saudável, facilitando a sua participação na sociedade, com autonomia e cuidado em liberdade.

Formatos e suportes necessários referentes à apresentação
Projetor para exibir as fotografias, formato JPEG, produzidas pelo autor.

Breve biografia do autor
Romildo Cavalcantip, recifense, 30 anos, médico pela Universidade de Pernambuco (UPE), especialista em saúde da família (UFRN), atualmente cursa o segundo ano da residência médica de psiquiatria pela secretaria de saúde da prefeitura do Recife. Encontra na fotografia a expressão da sua subjetividade e das pautas que norteiam as suas escolhas ideológicas e profissionais.