46646 - TEATRO MAIUHI: JOVENS ATORES INDÍGENAS E A ESTÉTICA DO OPRIMIDO NA COMUNICAÇÃO PELAS ALTAS COBERTURAS VACINAIS EM ALDEIAS DO AMAPÁ AKIRA HOMMA - BIO-MANGUINHOS/FIOCRUZ, MARIA DE LOURDES DE SOUSA MAIA - BIO- MANGUINHOS/FIOCRUZ, ISABEL CRISTINA ALENCAR DE AZEVEDO - BIO- MANGUINHOS/FIOCRUZ, ISABELLA LIRA FIGUEIREDO - BIO- MANGUINHOS/FIOCRUZ, LUCIANO BEZERRA GOMES - UFPB, ELISSANDRA BARROS - UNIFAP, LUIZ AUGUSTO DA ROCHA VAZ - BIO- MANGUINHOS/FIOCRUZ
Contextualização O Projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais (PRCV), do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) em parceria com o Programa Nacional de Imunizações, e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), desenvolve ações de comunicação e educação, de forma estratégica, buscando o engajamento das comunidades nos territórios e a formação de novas lideranças. Desde agosto de 2021, vem atuando no Amapá e na Paraíba, tendo contribuído para que fossem os primeiros estados da federação a alcançar as metas de vacinação nas Campanhas Nacionais contra a Poliomielite (2022) e da Influenza (2023). A estratégia de formação de equipes de jovens comunicadores em comunidades vulneráveis nesses estados, por meio de oficinas de Teatro do Oprimido para jovens indígenas do Amapá, e de comunicação comunitária em favelas de João Pessoa/Paraíba vem sendo pensada como um dos pilares para a disseminação do método de comunicação em saúde com participação popular para vencer os desafios de reversão da hesitação vacinal e aumento da cobertura de todas as vacinas.
Descrição Para atuar com a população indígena, o PRCV fez parceria com o Programa de Educação Tutorial-Indígena (PET) do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) buscando identificar qual estratégia de comunicação garantiria maior engajamento dos jovens. O PET-Indígena indicou o teatro como possibilidade para a criação de pontes de diálogo sobre saúde e imunizações com as aldeias, e o PRCV sugeriu o Teatro do Oprimido como método. O Teatro do Oprimido (TO) é uma forma de teatro que visa promover a conscientização e ação social pela participação ativa dos espectadores; uma de suas técnicas é o Teatro-Fórum, em que uma cena é apresentada e os espectadores são convidados a interromper a ação e substituir um personagem oprimido, sugerindo soluções para o problema apresentado.
A Estética do Oprimido ou o Teatro do Oprimido é uma das metodologias teatrais de criação artística coletiva mais praticadas no mundo. Foi criado na década de 1970 pelo teatrólogo Augusto Boal, e atualmente é praticado em mais de 70 países.
Quando começamos a pensar na organização de um grupo de teatro com o PET-Indígena e os futuros atores, foi sugerido o nome Maiuhi, por congregar o senso de coletividade que permeia a produção teatral, pois Maiuhi é como os povos indígenas do Oiapoque se referem às atividades coletivas, realizadas em mutirão, como a plantação das roças e a produção de farinha de mandioca. Surgiu assim o Teatro Maiuhi.
Período de Realização As oficinas aconteceram de 06 e 15 de março de 2023, na Terra Indígena Uaçá/Oiapoque, e de 17 a 23 de junho em Macapá, além de encontros remotos quinzenais.
Objetivos Criar canais de produção e troca de conteúdo sobre direitos humanos e promoção da saúde por meio de linguagem acessível, tendo como base as experiências da popularização, em especial por meio de “arte e ciência”, estimulando a criação de grupos e espetáculos de teatro nas aldeias do Amapá. O que se buscou foi promover a saúde, pela identificação das opressões sociais vividas pelos povos indígenas, e utilizá-las como base da dramaturgia, propondo reflexões na busca de soluções.
Resultados Criação da Cia Teatro Maiuhi com 30 jovens dos povos indígenas do Amapá divididos em 4 elencos: Karipuna, Galibi-Marworno, Waiãpi e Palikur-Arukwayene. Foram produzidos pelo grupo 5 espetáculos sobre temas recorrentes e atuais no contexto indígena: silenciamento racial, garimpo, alcoolismo, desaldeiamento e hesitação vacinal. O espetáculo O SUS e o Susto do Jacaré sobre a vacinação contra a COVID-19 será montado e representado por todos os elencos e já vem sendo apresentado nas aldeias do Oiapoque. Foi realizado em 23 de junho, em Macapá, o Festival Teatro Maiuhi. O PET-Indígena registrou o Teatro Maiuhi como Projeto de Extensão da UNIFAP.
Aprendizados As campanhas de vacinação não têm alcançado êxito nos últimos anos e, desde 2015, diversos estudos apontam a queda das coberturas vacinais, o que representa um grande risco para a saúde pública com a ameaça de retorno de doenças imunopreveníveis. É preciso pensar novas formas de comunicação em articulação direta com os diferentes atores dos territórios para entender a realidade em que estão inseridos e superar a hesitação vacinal.
Análise Crítica A baixa cobertura vacinal entre a população indígena decorre de múltiplos fatores, entre eles a ausência de ações de comunicação específicas para os povos indígenas que considerem suas especificidades culturais, linguísticas e geográficas; e a desinformação provocada pelas fake news, o que acabou causando a resistência ao uso dos imunizantes. O questionamento sobre as dificuldades enfrentadas, considerando-se a realidade dos povos e de suas aldeias, originou reflexões sobre essas realidades com a identificação e busca de superação das opressões.
|