01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO24.1 - Nada sobre mim, sem mim: mulheridades e as iniquidades de gênero na saúde |
46302 - NÃO MEXE COMIGO QUE EU NÃO ANDO SÓ - A COLETIVIDADE COMO FORTALECIMENTO DAS MULHERES NEGRAS LUCIANA PEREIRA LINDENMEYER - UFC, GEISA MATTOS DE ARAUJO LIMA - UFC, VERA REGINA RODRIGUES DA SILVA - UNILAB
Apresentação/Introdução O presente trabalho apresenta os movimentos iniciais da pesquisa em andamento no doutorado do programa de pós-graduação em Sociologia. A pesquisa vem investigando as violências vivenciadas por mulheres negras que buscaram algum tipo de coletividade para ocupar espaços institucionais no legislativo no Ceará, entre 2020 e 2022. A colonização brasileira teve um impacto negativo na ocupação de espaços por mulheres negras no país, gerando discriminação e exclusão social. No entanto, as lutas por justiça social e por representatividade têm ajudado a mudar esse cenário, e hoje podemos ver mulheres negras ocupando lugares de destaque na sociedade brasileira, ainda aquém do necessario.
As candidaturas coletivas são uma realidade e para mulheres negras essa nova forma vem sendo a única forma que elas aceitam disponibilizar seus corpos e trajetórias para disputar esse espaço, hostil e violento para todas, sempre. A pesquisa trabalha com etnografia e vem relatando como mulheres negras que abriram caminhos no passado, vivenciaram impactos do racismo que seguem sendo desafios nos dias atuais.
Objetivos Os objetivos da pesquisa são investigar se a coletividade proposta pelas candidaturas coletivas contribui para o processo de enfrentamento às violências vivenciadas pelas mulheres negras nos pleitos eleitorais. Intenciona saber se mulheres negras de candidaturas coletivas se sentem mais fortalecidas pelo processo vivido em conjunto.
Metodologia A metodologia envolve a etnografia a partir da observação próxima de candidaturas coletivas no Ceará, para cargos de vereador e deputada federal, composta por mulheres negras exclusivamente. Além da etnografia e observação das redes sociais das campanhas, a pesquisa tem também as entrevistas como forma de percepção de algumas questões que envolvem a vivência das violências por essas mulheres no processo das candidaturas. Como autora, mulher negra e envolvida em algumas dessas candidaturas, entendo que também desenvolverei o processo trazido por Conceição Evaristo de escrevivência.
Resultados e discussão A colonização, especialmente nos países colonizados por potências europeias, teve um impacto significativo na baixa ocupação de espaços por negros na política. O sistema colonial criou desigualdades sociais e econômicas profundas e duradouras que continuam a afetar as sociedades colonizadas até hoje.
Na política, a colonização muitas vezes restringiu o acesso de grupos não europeus ao poder e à representação política. As instituições políticas dos países colonizados foram frequentemente moldadas à imagem das instituições europeias, com pouca consideração pelas tradições políticas e culturais locais. Isso muitas vezes resultou em sistemas políticos que não representavam adequadamente as necessidades e interesses das populações nativas, incluindo as populações negras.
Além disso, a colonização muitas vezes promoveu o racismo e a discriminação contra as populações negras, criando um sistema de desigualdades raciais que persiste até hoje. Essas desigualdades tornaram mais difícil para os negros acessar posições de poder e representação política.
Assim, a colonização teve um impacto significativo na baixa ocupação de espaços por negros na política, criando barreiras sociais, políticas e econômicas que tornam difícil para os negros se engajarem plenamente na política e alcançarem posições de poder e representação política adequada.
Tal impacto segue sendo maior para as mulheres negras, pois, de acordo com Cida Bento(2022, p32), a população negra trabalha mais e ganha menos, sendo as mulheres negras o grupo mais afetado visto que trabalham quase o dobro do tempo para obter um salario de um homem branco.
As candidaturas coletivas surgem numa perspectiva de superar a forma colonial de ocupar os espaços legislativos, inovando numa perspectiva de horizontalização do poder, trazendo cada vez mais a população para participar de forma mais ativa dos mandatos e das decisões que afetam diretamente suas vidas. No entanto, mesmo com essa forma em que várias mulheres se juntam para disputar o poder, não são blindadas das mais diversas formas de violência, o que muitas vezes as faz desistir desse espaço hostil e adoecedor. Os resultados iniciais apontam para uma perpetuação de algumas violências desde a primeira mulher negra eleita deputada no país, passando por Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro e, mais recentemente com mulheres negras no Ceará vivenciando diversas violencias durante disputas em 2020 e 2022.
Conclusões/Considerações finais A pesquisa segue em andamento para mostrar que a violência politica de gênero atinge mulheres negras com maior impacto e que a coletividade pode se apresentar como uma estratégia de fortalecimento para contribuir nesse processo de ocupação de espaços institucionais. No entanto, outros olhares são necessários para que estas sigam considerando o legislativo como importante para a melhoria da sociedade como um todo e que o pacto narcísico da branquitude segue impedindo o avanço para a busca do bem viver.
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