01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO22.1 - Corpo, cultura e mídias digitais |
46125 - ANOTAÇÕES SOBRE UMA RODA DE CONVERSA A RESPEITO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE SEXUAL PARA HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS JÚLIO HENRIQUE LUCKWU - UFPE, LUÍS FELIPE RIOS - UFPE, JOÃO PEDRO DIAS - UFPE
Contextualização No último dia 22 de março ocorria a roda de conversa "Interlocuções entre academia, sociedade civil organizada e organizações governamentais para promoção da saúde de gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSHs)”, como parte do seminário “Para além da PrEP”, organizado pelo Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana (LabEshu). Pensando no novo plano de difusão científica do laboratório para 2023 e 2024, a roda objetivou propiciar o debate sobre as potências e limitações das correntes produções do grupo e as possibilidades de incorporação das questões que germinam na lida das pessoas que atuam nos serviços de saúde em pesquisas-intervenções.
Descrição O seminário foi o primeiro de uma série que integra o plano de divulgação e comunicação de conhecimento científico do laboratório para os próximos anos. Também constam no plano investimentos em mídias digitais, expressos no lançamento dos sites “LabEshu” e “Alice Bee no Vale das Ninfas”, e redes sociais, a fim de conferir mais capilaridade na visibilidade de nossas ações e produções. O primeiro site tem um caráter mais formal, e objetiva acessibilizar, a outros acadêmicos e profissionais, as produções teóricas do grupo sobre gênero, sexualidade e feminismos. Já o segundo se apresenta de forma mais descontraída, de modo a se aproximar do seu público beneficiário, os HSHs, e a potencializar a atuação na prevenção do HIV/AIDS e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) para essa população. O site foi inspirado, sobretudo, nas ações da “Resposta Brasileira à AIDS”, modelo de referência internacional no combate ao vírus e na pedagogia freiriana. O material de que o site dispõe é organizado em duas modalidades, uma mais paradigmática, com informações que enfatizam o seguimento de regras para a manutenção da saúde. A outra, nomeamos como “pós-pornográfica”, considerando o papel que a pornografia desempenha no aprendizado sobre sexualidade no ocidente e buscando superar valores que oprimem expressões de sexualidade e eroticidade. Nesse material, narramos cenas sexuais que remontam os contextos reais etnografados por nós, de modo a gerar uma identificação e reflexão mais profunda no público beneficiário, objetivando promover uma cultura sexual não opressora, segura e prazerosa. Participaram da roda estudantes, acadêmicos e profissionais de instituições que prestam algum tipo de serviço para HSHs na Região Metropolitana do Recife.
Período de Realização A roda ocorreu em 22 de março de 2023 e durou cerca de uma hora e meia.
Objetivos Estreitar as interlocuções entre academia e organizações que prestam serviços para gays e outros HSHs, de modo a pautar suas questões em pesquisas-intervenções.
Resultados De imediato, “Alice Bee no Vale das Ninfas”, já no momento da roda, passou por uma primeira avaliação pelos participantes do evento, partindo do modo como o site realiza a prevenção. Isso porque, embora o seu material seja baseado em cenas sexuais e possua os elementos imagéticos da pós-pornografia, ele pede pela leitura formal. Desse modo, é um material mais acessível e efetivo para os HSHs letrados, que não são a totalidade desse público nem são os mais vulneráveis ao HIV/AIDS e outras ISTs. Dentre as muitas questões que a roda produziu, destacamos a) Quem chega até Alice Bee? b) Como construir dispositivos que cheguem até populações de HSHs em situação de rua, em privação de liberdade, periféricas e não letradas? No contexto das populações pobres e remediadas, embora o analfabetismo funcional seja uma realidade, há um grande uso de smartphones. Nas conversas pós-encontro, pensamos que o uso de vídeos e animações pudesse ser mais acessível para as pessoas pouco letradas e analfabetas funcionais, que têm celulares e utilizam as redes sociais compartilhando o que acham interessante, frequentemente por mensagens de voz. A audiodescrição do site, assim, poderia ser um caminho para incluir essas pessoas e pessoas com deficiência visual. Entendemos que estas podem ser novas alternativas que as mídias digitais oferecem para que a leitura formal não seja a via essencial do acesso à informação, educação e comunicação (IEC) em saúde.
Aprendizados Os temas que a roda desvelou impactam a produção de cuidado não apenas no campo do HIV/AIDS, e não apenas para HSHs, mas todas as letras do alfabeto sexo-dissidente, com destaque para a questão do letramento que dificulta o acesso a muitos materiais de IEC em saúde.
Análise Crítica Como dar mais expressividade, em pesquisas-intervenções, a essas populações de HSHs que sofrem outras opressões além da de sexo-gênero? Como produzir materiais que não se limitem ao acesso de HSHs brancos, de classe média e universitários? Como o racismo estrutural, a classe e o letramento impactam as ações de promoção à saúde, muitas vezes invisibilizando atores ou impossibilitando acesso pleno à informação? Certamente, os temas elencados situam importantes obstáculos na promoção da saúde integral de pessoas LGBTQIA+, contribuindo com outras agendas de pesquisa e intervenção.
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