01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO22.1 - Corpo, cultura e mídias digitais |
46124 - ATIVISMO GORDO DIGITAL E AS PAUTAS DA SAÚDE: UM OLHAR SOBRE AS DESIGUALDADES SOCIAIS POR RAÇA/COR E GÊNERO JULIANA MARINS REEVE - IFF/FIOCRUZ, CLAUDIA VALÉRIA CARDIM DA SILVA - UERJ; UFBA, SUELY FERREIRA DESLANDES - IFF/FIOCRUZ; CNPQ
Apresentação/Introdução Com a intensa digitalização da vida cotidiana, o ativismo digital tornou-se um espaço potente de interação entre organizações sociais, pessoas, corpos e palavras, onde os agentes viram no espaço digital uma extensão de suas potências.
As problematizações protagonizadas pelo ativismo gordo digital, têm contribuído muito no enfrentamento de estigmas (Goffman, 2008), preconceitos e na garantia de direitos da pessoa gorda. Nessa direção, o ativismo gordo digital abre espaços para as mulheres gordas se colocarem como sujeitos críticos da padronização do corpo feminino (Jimenez & Abonízio, 2017). Compreender as pautas dessas ativistas nos permite trazer os debates sobre diversidades corporais, repensar o efeito dos modelos da biomedicina sobre corpos com excesso de peso e pensar em estratégias inclusivas na promoção da saúde, nas organizações sociais e no cotidiano da instituição de saúde.
Objetivos Esse trabalho tem como objetivo, analisar as concepções de saúde presentes nos conteúdos produzidos por mulheres do ativismo gordo digital sob a perspectiva de gênero, raça e classe.
Metodologia Trata-se de um estudo qualitativo realizado em páginas do ativismo gordo digital na plataforma Instagram entre janeiro e dezembro de 2022. Foram 13 perfis mapeados inicialmente, utilizando-se uma adaptação da estratégia de amostragem por snow-ball, adotando como referência, para esta análise, três perfis, com trabalho consolidado no ativismo digital, com maior número de seguidores, engajamento nas postagens e com maior produção de conteúdo com temática sobre saúde sob a perspectiva de gênero, raça e classe. Destes, somente duas ativistas traziam conteúdos que falavam das questões raciais e de classe que permeiam a gordofobia no período estudado, que são: @malujimenez_ e @atletadepeso. Selecionamos para compor o acervo, vídeos, posts em texto e reels, incluindo as respectivas legendas. As postagens selecionadas foram transcritas na íntegra e fomos fiéis às linguagens e concordâncias, utilizadas no material postado, bem como às suas performances corporais. Para a análise aplicamos todas as etapas da análise de conteúdo, segundo Bardin (1977) e análise temática de Braun &
Resultados e discussão Apenas duas ativistas apresentaram a politização do debate que cerca os aspectos sociais e raciais que permeiam a gordofobia. Estes perfis traziam análises mais aprofundadas sobre as questões de classe, que estruturam a gordofobia e reflexões sobre como a gordofobia afeta desigualmente as mulheres negras. Um dos conteúdos traz reflexões mais aprofundadas sobre a segregação desses corpos a partir de uma gramática colonial na construção da raça, corpo, gênero e conhecimento. Destacamos também que dentre os perfis inicialmente estudados, apenas uma ativista negra conseguiu ganhar espaço e notoriedade no movimento anti-gordofobia na internet. Os perfis de ativistas negros e gordos sugeridos no perfil dela, eram perfis estrangeiros, o que nos dá a percepção de que o ativismo gordo no Brasil ainda é um movimento ativista branco.
Conclusões/Considerações finais Observamos que os padrões estéticos recaem principalmente sobre os corpos femininos longe do padrão estético aceitável, porém mais intensamente sobre a mulher gorda e negra, visto que é um corpo que diverge da normatização cultural: branco, magro e com maior poder econômico, uma vez que essas mulheres enfrentam maiores obstáculos para se inserirem na sociedade e conseguirem alguma representatividade, até mesmo dentro do ativismo gordo, cujo as ativistas ainda são majoritariamente brancas. Essa realidade pode ser explicada pela desigualdade no acesso à tecnologia e no processo de letramento digital da população negra e daquelas que sofrem de grandes desigualdades sociais, que acabam por refletir na representatividade do ativismo gordo digital. É importante reconhecer que grande parte das violências têm suas raízes num sistema que ainda hierarquiza os gêneros, reforça as diferenciações sociais e se atrela ao racismo estrutural, que acabam reforçando o preconceito, a discriminação e os estigmas principalmente da mulher gorda e negra, debate que urge ser conduzido pelo movimento antigordofobia no Brasil.
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