01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO21.1 - Modos plurais e resistências na atenção à saúde indígena |
47820 - MEMORIAL VAGALUMES: UMA INCIATIVA PARA GUARDAR ENTRE NÓS, VIVOS, PARTE DA MEMÓRIA DAS PESSOAS INDÍGENAS VÍTIMAS FATAIS DA COVID-19. ERICA DUMONT-PENA - UFMG, ALINE DOMINGOS CORRÊA - UNILA, RUBEN CAIXETA DE QUEIROZ - UFMG
Contextualização Vagalumes trata-se de um projeto de extensão constituído por uma rede de pesquisadores e indigenistas do Brasil com o objetivo de cuidar da memória de pessoas indígenas que foram vítimas fatais da Covid-19 no Brasil e em países vizinhos, homenageando-as e solidarizando com seus parentes. Partimos do pressuposto de que nenhuma pessoa pode ser considerada apenas um número entre as muitas vítimas da Covid-19. No que diz respeito as pessoas indígenas a morte ameaça intensamente as formas particulares de conhecimento uma vez que muitas dessas pessoas indígenas nasceram, cresceram e se formaram em comunidades nas quais a forma de comunicação básica e mais elevada é a oralidade. É pela narrativa de pessoas, pelas histórias contadas, que saberes in-corporados sobre a vida, a floresta e todos os seres, humanos e não-humanos são partilhados. A morte de uma pessoa indígena ameaça também essa tradição do saber e por isso, talvez, seja um acontecimento mais trágico para o seu povo e para o mundo – que perde parte da sabedoria que o mantém em funcionamento. No avançar da pandemia de Covid-19 as comunidades indígenas viram o sopro vital do seu modo particular de existência ser fatalmente sufocado para além de perdas individuais. O Memorial Vagalumes é uma singela tentativa de manter presente a força e a potência do pensamento indígena, presente em cada uma dessas pessoas, na expectativa de manter-nos conectados aos seus espíritos, hoje habitando algum lugar da floresta, do céu ou de uma estrela. Na expectativa ainda de que ele nos ajude a suspender o fim do mundo e a disseminar entre nós todos e todas o bem viver.
Descrição O Memorial Vagalumes foi desenvolvido em quatro etapas, sendo elas: 1) acompanhamento de dados sobre morte de pessoas indígenas por Covid-19 em fontes diversas tais como notícias de jornais, banco de dados de movimentos/associações indígenas; 2) construção de biografias em parceria com as famílias enlutadas; 3) construção de um website de consulta e páginas nas redes sociais Instagram e FaceBook para disponibilização das biografias; 4) Construção de vídeo para divulgação do Memorial e para prestar homenagem às vítimas indígenas da Covid-19.
Período de Realização 2019 aos dias atuais.
Objetivos Refletir, por meio da linguagem artística e cultural do Memorial Vagalumes, sobre a produção de memorial como uma experiência de cuidado.
Resultados Foram produzidos diversos biografias/memoriais de pessoas indígenas mortas pela Covid-19. Além disso foi produzido um website de consulta e páginas nas redes sociais Instagram e FaceBook para disponibilização das biografias e ainda um vídeo para divulgação do Memorial e para prestar homenagem às vítimas indígenas da Covid-19.
Aprendizados A produção do Memorial Vagalumes envolveu muitos e diversos desafios desde a busca pelas vítimas em um contexto de negligência por parte do governo com os dados de mortalidade por Covid-19, passando pelo desafio de pesquisar com pessoas enlutadas, sendo elas os diversos povos indígenas, pesquisadores e colaboradores de pesquisa. Construir a memória como prática de cuidado, significa refletir e ajustar de forma individualizada a abordagem das famílias e para tal priorizamos pesquisadores que já tinham relações estabelecidas com os povos em questão. Significa ainda refletir sobre a forma de narrar, recursos utilizados como fotos, imagens e sobretudo sobre o conteúdo do que se registra uma vez que essas histórias podem e devem cuidar não só dos vivos, mas dos mortos e do mundo que nos une.
Análise Crítica Considera-se que a produção do Memorial Vagalumes seja uma prática de cuidado, como tal, atenta as necessidades mais particulares das pessoas envolvidas para produção do bem viver ainda que seja desafiador pensar em viver bem em um contexto de tamanho luto. A construção do Memorial reforça o entendimento de que depende de uma multiplicidade de povos a garantia de um novo normal, o qual esperamos que seja pautado em modos de vida, como descrito em muitas das memórias, pautado numa relação mais harmoniosa com o mundo, a natureza, seres humanos e não humanos.
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