Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO19.1 - Soberania e segurança alimentar e nutricional: do campo à cidade

46875 - INSEGURANÇA ALIMENTAR DE FAMÍLIAS COM CRIANÇAS EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DEBATE SOBRE O DIREITO À ALIMENTAÇÃO
ALICYREGINA SIMIÃO SILVA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), THALITA CAROLINE COSTA FAÇANHA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), TAYANA VIVIAN RIBEIRO BASTOS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), ANDRÉ CARDOSO TAVARES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), NATÁLIA GERMANO FERREIRA - UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA (UNILAB), LEIDIANE MINERVINA MORAES DE SABINO - UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA (UNILAB), ILVANA LIMA VERDE GOMES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)


Apresentação/Introdução
A alimentação adequada e saudável é considerada legalmente como um direito humano, conquistado por meio de importantes lutas sociais. No entanto, apesar de tal reconhecimento legal, observa-se no contexto mundial o aumento no número de indivíduos que vivenciam situação de fome, sendo esta a expressão mais grave da insegurança alimentar e nutricional (SILVA et al., 2022; SILVA-NETO et al., 2023).
Assim, vale destacar que a problemática relacionada a alimentação não está associada diretamente a falta de produção de alimentos, mas especialmente a questões sociais e políticas que evidenciam a desigualdade no acesso a aspectos essenciais para a vida e que interferem diretamente na saúde dos sujeitos (SILVA et al., 2022). Somado a isso, considera-se que vulnerabilidades e desigualdades são intensificadas diante de situações emergenciais, como a vivenciada no contexto da pandemia da COVID-19.
Desse modo, é essencial o aprimoramento do conhecimento sobre o impacto da pandemia da COVID-19 em aspectos alimentares e nutricionais de públicos mais vulneráveis, com destaque à população infantil, especialmente ao considerar que a Insegurança Alimentar (IA) apresenta relevantes consequências, capazes de ocasionar déficit no crescimento e desenvolvimento infantil, ou mesmo contribuir para o surgimento de patologias específicas (MAAS et al., 2020).

Objetivos
Avaliar a situação de (in)segurança alimentar de famílias com crianças menores de cinco anos durante a pandemia da COVID-19.

Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no município de Redenção/CE, Brasil, durante os meses de maio a agosto de 2022. A população do estudo foi composta por famílias que tinham crianças menores de cinco anos de idade residentes no mesmo domicílio. Utilizou-se a fórmula de populações finitas para determinar o tamanho da amostra, de modo que esta indicou que 109 famílias deveriam participar do estudo (TRIOLA, 1999). A seleção da amostra se deu por conveniência.
Adotou-se como critérios de inclusão: ser mãe/pai e/ou cuidador que resida com uma criança menor de cinco anos de idade, ser cadastrado e acompanhado na UBS em que foi desenvolvida a pesquisa, ser alfabetizado e ter mais de 18 anos de idade. Os critérios de exclusão foram: participante que não possuísse habilidade cognitiva para compreender as perguntas realizadas.
Para a coleta de dados utilizou-se os seguintes instrumentos: 1. Questionário do perfil sóciodemográfico, da condição de saúde da criança e de acesso ao auxílio emergencial e/ou ajudas de custo do governo federal (JOVENTINO, 2010; MARTINS, 2021); 2. Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) (SEGALL-CORRÊA, 2003). A pontuação na EBIA embasou a classificação quanto aos níveis de (in)segurança alimentar das famílias.
Os dados obtidos foram analisados através do programa Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS Statistics), versão 20.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob parecer nº 5.195.640.


Resultados e discussão
Participaram do estudo 109 pessoas de famílias com crianças menores de cinco anos de idade. No que se refere às características sociodemográficas dos participantes, a maioria possuía entre 18 e 29 anos de idade (n=59; 54,1%), apresentava ensino médio completo e incompleto (n=65; 59,6%) e recebia menos de um salário mínimo mensalmente (n=38; 34,9%).
Na análise dos dados referentes à classificação dos entrevistados quanto ao nível de (in)segurança alimentar, observou-se que 27 participantes (24,8%) estavam em segurança alimentar e 82 (75,2%) em IA. Tais achados vão de encontro à resultados encontrados anteriormente no cenário brasileiro, que destacava-se desde então como o mais preocupante quando se consideravam as iniquidades sociais existentes, de modo que as regiões Norte e Nordeste recebem destaque ao apresentarem os maiores índices de IA (IBGE 2020; SILVA et al., 2022).
Ademais, na análise da associação entre os níveis de (in)segurança alimentar com as variáveis pesquisadas, identificou-se que a variável renda familiar (p=0,009) apresentou significância estatística. Destaca-se que essa observação corrobora com demais estudos que destacam a importante associação entre a IA e menores níveis de renda e classe social, de modo que nesses casos a pobreza apresenta-se como um dos fatores determinantes (SLVA-NETO et al., 2022).


Conclusões/Considerações finais
Verificou-se que a maioria dos participantes da pesquisa apresentaram algum grau de IA. Tal aspecto torna nítido que este é uma importante problemática da saúde coletiva e que deve gerar um olhar mais aprofundado para intensificação de programas e políticas públicas voltadas para a temática, de modo a contribuir também em estratégias que ampliem e garantam o acesso da população à alimentação, sendo este um direito humano fundamental, e visando garantir um acesso à saúde integral e de qualidade.