Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO19.1 - Soberania e segurança alimentar e nutricional: do campo à cidade

46821 - ENFRENTAMENTO DA INSEGURANÇA ALIMENTAR POR MEIO DE HORTAS COMUNITÁRIAS: RELATO DE UM ENCONTRO ENTRE ASSENTADOS RURAIS E URBANOS
THALITA ELIZIÁRIO MENEZES MATIAS - FISIOTERAPEUTA E PÓS-GRADUANDA DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA E COMUNIDADE DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA/PB, BEATRIZ ROCHA MONTEIRO - ESTUDANTE DO CURSO DE TERAPIA OCUPACIONAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, GABRIELLE GOMES MACIEL - ESTUDANTE DO CURSO DE NUTRIÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, PRISCILA ANTÃO DOS SANTOS - ESTUDANTE DO CURSO DE NUTRIÇÃO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU DE JOÃO PESSOA-PB, SÁVIO MARCELINO GOMES - PROFESSOR ADJUNTO DO DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, FERNANDO FERREIRA DE MORAIS - PROFESSOR ADJUNTO DO DEPARTAMENTO DE SISTEMÁTICA E ECOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, MARÍLIA MEYER BREGALDA - PROFESSORA ADJUNTA DO DEPARTAMENTO DE TERAPIA OCUPACIONAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA


Contextualização
No Brasil, desde 2010, a alimentação adequada figura como um direito social estabelecido na Constituição. Contudo, grande parte da população brasileira se encontra privada desse direito. Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil, publicado em 2022 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer e mais da metade (58,7%) da população do nosso país convive com a insegurança alimentar em grau leve, moderado ou grave (fome).

Descrição
Diante disso, o projeto de extensão “A inaceitável fome: ações de enfrentamento da insegurança alimentar na comunidade do Alto do Céu”, objetiva criar estratégias comunitárias e sustentáveis de enfrentamento da fome, por meio da construção de hortas comunitárias e quintais produtivos no Assentamento urbano Terra Nova, localizado no bairro Alto do Céu, em João Pessoa/PB. O projeto, desenvolvido desde agosto de 2022, é vinculado à Universidade Federal da Paraíba, sendo a equipe executora constituída por docentes e discentes dos cursos de Terapia Ocupacional e Nutrição desta instituição e colaboradoras externas da Unidade de Saúde da Família Alto do Céu Integrado, do Centro de Referência de Assistência Social de Mandacaru e do curso de Nutrição do Centro Universitário Maurício de Nassau, além de apoiadores parceiros. Fruto de uma articulação entre o referido projeto e a Feira Agroecológica Ecovárzea, realizou-se uma visita ao Assentamento rural Dona Helena, no município de Cruz do Espírito Santo/PB. O território é um dos locais de plantio dos alimentos comercializados na supracitada feira, que ocorre na Universidade Federal da Paraíba. Participaram da visita 24 pessoas: 16 do Assentamento Terra Nova, seis membros do projeto vinculados às instituições e dois convidados externos.

Período de Realização
A referida visita ocorreu no dia 29 de março de 2023.

Objetivos
O seu intuito principal foi promover um momento de troca entre assentados rurais e urbanos, a fim de fortalecer o movimento de construção da horta comunitária no assentamento urbano.

Resultados
Chegando ao assentamento rural, fomos recebidos por quatro membros da Associação Ecovárzea. Inicialmente, a produtora associada e responsável pelo terreno nos mostrou todo o território em que realiza o seu plantio, rico de uma diversidade de vegetais cultivados como feijão, batata doce, macaxeira, açafrão da terra, jerimum, cenoura, rabanete, berinjela, couve, alface, cebolinha, coentro, coco e maracujá. À medida em que ia nos mostrando, os membros da Ecovárzea também discorriam sobre a forma como realizam o plantio, bem como quais as necessidades e variedades de determinados alimentos. Os moradores do assentamento urbano tiraram dúvidas e trocaram experiências, demonstrando entusiasmo em poder reproduzir parcela da realidade apresentada naquele território. O momento foi bastante rico para todos, que ficamos encantados com a organização, beleza e fartura provenientes daquele plantio agroecológico. Após percorrer todo o território, reunimo-nos para partilhar sobre a visita e a prática da agroecologia. Na ocasião, um dos membros da Associação contou toda a história de luta dos camponeses da Ecovárzea, desde o momento de ocupação da terra, em 1995, até os dias atuais, em que possuem uma feira agroecológica estruturada e capaz de lhes garantir a subsistência. Segundo o seu relato, posterior ao processo de ocupação da terra, a maioria das famílias entendeu não ser pertinente realizar o plantio da mesma forma como conduziam os proprietários das terras em que trabalhavam anteriormente, ou seja, utilizando agrotóxicos e realizando desmatamentos. Assim, iniciaram o plantio sob outra perspectiva; todavia, perceberam que era necessário se submeterem a um processo formativo para superar a lógica da monocultura e a forma de comercialização em que ficavam com apenas 50% do lucro sobre os alimentos que plantavam, o restante ficando para o atravessador, que intermediava as vendas.

Aprendizados
Apontaram que, no caminho árduo que percorreram, dois fatores foram fundamentais para não desistirem: (1) a necessidade, considerando serem a produção agroecológica e a feira a forma que possuíam (e possuem) de garantir condições de uma vida digna, de um real retorno pelo trabalho desenvolvido; (2) a organização coletiva, posto que foi por meio do apoio entre os companheiros, bem como das parcerias, dos planejamentos e das ações frutos de várias cabeças pensando e mãos agindo em prol da coletividade que conseguiram seguir até terem o retorno almejado.

Análise Crítica
Alguns moradores do assentamento urbano reafirmaram a importância de trabalhos na perspectiva coletiva, ressaltando a visita, sobretudo na semana anterior ao primeiro mutirão para plantio que faríamos no assentamento urbano, como “combustível” para os trabalhos, considerando a história tão admirável de luta e resistência dos camponeses. Compararam ainda as duas lutas: a pela terra, promovida pelos camponeses; e a por uma ocupação digna da cidade, promovida por eles.