Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.1 - Temas de Saúde Reprodutiva

46573 - TRABALHADORAS DA SAÚDE RE-PENSANDO O PRÉ-NATAL DESDE A PERSPECTIVA INTERSECCIONAL: COMO FAZER ESSE ACOMPANHAMENTO MAIS HUMANIZADO? É TÃO DIFÍCIL ESSE NEGÓCIO!
TELMA LOW SILVA JUNQUEIRA - UFAL, GABRIELA BORGUETTI DIAS - UFAL, GEANE ARAÚJO DE LIMA - UFAL, MARIA DANIELLA NASCIMENTO SOUZA - UFAL, MARIELLE GIOVANNA DA SILVA TEIXEIRA - UFAL, MARIA BEATRIZ ROCHA DE ALENCAR - UFAL, PIETRA MOREIRA GONZALEZ - UFAL, KEMILLY MARIANA MARTIM JACINTO - UFAL


Apresentação/Introdução
Compartilhamos os resultados parciais de uma pesquisa feminista e interdisciplinar que está sendo desenvolvida desde 2021, no contexto da saúde materna e infantil de Alagoas. Somos pesquisadoras da psicologia e nos dedicamos a analisar como pessoas trabalhadoras da saúde no contexto da atenção básica que realizam consultas pré-natal junto a pessoas com útero gestantes, consideram (ou não) a perspectiva da interseccionalidade.
Problematizamos a noção de ciência positivista, biomédica e tecnicista, ainda tão dominante na saúde, e nos fundamentamos no referencial teórico-metodológico do feminismo negro interseccional, que questiona a ideia do sujeito universal mulher – branca, cisgênera, heterossexual e sem deficiência – racializando todos os corpos e tensionando os efeitos das opressões e desigualdades sociais geradas a partir do encontro entre os marca-dores sociais de gênero, cor/raça e etnia, classe, geração, deficiência, território (CRENSHAW, 2002; DAVIS, 2016; COLLINS; BILGE, 2021).
Considerando que a objetividade da/na pesquisa se faz a partir dos saberes localizados, conforme destaca Donna Haraway (1995), nos interessamos em escutar como as pessoas trabalhadoras da saúde narram suas práxis cotidianas re-pensando os atravessamentos que envolvem o processo de cuidado em saúde a partir dos princípios doutrinários do SUS – universalidade, integralidade e equidade.


Objetivos
Apresentar os resultados parciais da pesquisa realizada com trabalhadoras da
atenção básica em saúde de Alagoas, acerca do (não) lugar da perspectiva interseccional na oferta de uma assistência ao pré-natal humanizada.


Metodologia
Realizamos, de julho de 2022 a junho de 2023, 10 entrevistas semiestruturadas, online, por meio da plataforma Microsoft teams, com pessoas trabalhadoras da saúde que atuam no contexto da assistência ao pré-natal em unidades básicas de saúde de Alagoas. A pesquisa faz parte de um projeto maior que abarca 5 áreas da saúde, intitulado “Desafios e estratégias de Educação Permanente em Saúde materno-infantil no estado de Alagoas”, submetida e aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa da Ufal.
Todas as pessoas entrevistadas firmaram o Termo de Compromisso Livre Esclarecido (TCLE) e pactuaram sobre outros cuidados éticos em pesquisa, como a escolha de um nome fictício, os contatos que possibilitem receber um retorno sobre os resultados da pesquisa, dia e horário para as entrevistas serem realizadas etc.
Transcrevemos cada entrevista e sistematizamos as informações em um quadro organizador a partir de eixos de análise, como: cuidado em saúde, interseccionalidade, interprofissionalidade, políticas públicas, desafios, potencialidades, violência obstétrica etc.
As narrativas estão sendo analisadas à luz do feminismo negro interseccional, de modo a considerar como as relações de poder atravessam o processo do cuidado em saúde no contexto da assistência pré-natal, quais são os corpos que acessam os serviços, como eles são cuidados etc.


Resultados e discussão
As pessoas entrevistadas eram todas mulheres, que atuavam em unidades básicas de saúde da capital e de municípios do interior de Alagoas, a maioria branca.
As entrevistadas enfocam, ao pensar sobre as pessoas usuárias, na questão geracional, em especial adolescentes grávidas e em situação de vulnerabilidade, como destaca SP (pseudônimo), enfermeira, negra, que atua desde 2001 em uma UBS de Maceió
Ah, são adolescentes né, de 14 anos, 15 anos, até 25 anos, o grosso é essa faixa etária. E a maioria, né, são estudantes, é…tem muita, é, pessoas que fazem faxina, né. [...] tem muitas meninas que não trabalham nem estudam, vivem só pra tomar conta das crianças. [...] É toda uma demanda e muitas delas não tão preparadas pra aquilo ali, muitas vezes a mãe também teve uma gravidez na adolescência, [...] meio como uma bola de neve, né. [...] E a maioria [...] são muito dependentes do bolsa família [...] Boa parte mora ou próximo ou ainda mora com os pais, né, tem muita menina que é mãe solo.

Identificamos que o quesito racial só era considerado, pela maioria das entrevistadas, quando as pesquisadoras perguntavam diretamente sobre o tema:
Mas assim... são mais mulheres/meninas brancas, meninas negras, indígenas que tão nessa unidade? (pesquisadora)
Pardas e negras, maior parte. [...] até porque a população da gente, a maior parte são pardas e negras (SP)


Conclusões/Considerações finais
Os resultados apontam para a relevância de investir em uma formação em saúde que considere o tripé interseccionalidade, interprofissionalidade e educação permanente em saúde como uma estratégia teórica, metodológica, ética e política de humanizar a assistência e gestão no contexto da saúde materna e infantil. Pois, a superação da violência institucional, que abarca o racismo obstétrico e violência obstétrica, perpassa também pela revisitação dos currículos formais e ocultos dos cursos de nível médio, técnico e superior.