Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO15.1 - Cuidado, acolhimento e direitos humanos

47760 - “O CAMINHO SÓ EXISTE QUANDO VOCÊ PASSA”: PESQUISA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E SAÚDE MENTAL ENTRE MULHERES TRANS E TRAVESTIS – DIHMUTRANS-UFF
SANDRA MARA SILVA BRIGNOL - UFF


Apresentação/Introdução
A expressão de gênero das travestis e mulheres transexuais desafia as normas hegemônicas do sexo (binário) e orientação heterossexual, que conjuntamente com a misoginia, transfobia e características (socioeconômicas, demográficas, saúde e psicossociais) geram processos de vulnerabilidade (programática e exclusão social).
Expulsas precocemente da família e escola, habitam a margem da sociedade, onde frequentemente trabalham na prostituição. Nesse contexto encontram dificuldades para exercerem seus direitos fundamentais, convivendo diariamente com discriminações, violências e violações de seus direitos. Sobram as consequências, o sofrimento psíquico, que produz além da tristeza, estresse, ansiedade, crises de pânico e sintomas de depressão, etc. As TraveTrans têm grande desvantagem ao enfrentar traumas e sofrimentos, pois não contam com uma rede de apoio ou assistência, muitas estão em isolamento social.
Nesta população, no Brasil, pouco se conhece sobre a associação das diferentes violações de direitos e violências com aspectos da saúde geral e mental. Por outro lado, as pesquisas enfrentam grandes desafios, entre eles, construir uma aproximação as TraveTrans, pois além de estarem excluídas do convívio social, muitas são desconfiadas, resistentes à aproximação de pessoas “estranhas”.
A DIHMUTRANS é uma “pesquisa-ação” do tipo quanti-qualitativa, ocorre nas cidades de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro. O desafio da convivência com as “potenciais” participantes acontece em espaços do projeto de Extensão Saúde das pessoas LGBTIQIA+ sob a ótica da saúde coletiva: atenção integral à saúde no Sistema único e Saúde (Prosain), na oferta atividades de saúde, capacitação e sociabilidade, para travestis e mulheres trans (TraveTrans) - na Universidade Federal Fluminense-Instituto de Saúde Coletiva.
Há um permanente investimento na manutenção de vínculos com as participantes, com base no respeito aos seus direitos, “espaços”, “tempos” e vulnerabilidades.

Objetivos
O objetivo deste trabalho é apresentar a organização da entrada em campo e implantação das atividades da pesquisa no seu braço qualitativo, e como se romperam as resistências de aproximação.


Metodologia
A pesquisa-ação iniciou com mapeamentos/estruturação das parcerias em outubro de 2021 e coleta de dados (qualitativa) começou no 1.º. semestre de 2022, com diferentes estratégias de coleta de dados. A rede colaborativa (ReCo) conta com: instituições de saúde, assistência social e jurídica, movimento social, profissionais de saúde, projetos de Extensão, o que favorece as atividades do projeto.
Os “espaços” de aproximação e convivência com a população do estudo ocorre junto ao projeto de Extensão Prosain e suas instituições filiadas: oficinas saúde bucal, saúde mental e costuras (camisetas, customização, fuxico, tricô, bandeiras LGBTQIA+, bolsas), capacitações.
Assim são construídos os vínculos entre a equipe do projeto e potenciais informantes. Há disponibilidade de dois canais de comunicação digital. O protocolo do projeto foi submetido e aprovado pelo CEP-HUAP-UFF (CAAE: 57242722.3.0000.5243).

Resultados e discussão
Ao se identificar as principais demandas da população, perfil das TraveTrans junto a ReCo, principais agravos de saúde mental e fatores associados, ajudou a organizar com antecedência e ofertar atividades específicas, além de preparar e compor a equipe. As demandas são encaminhadas para a ReCo visando minimizar as vulnerabilidades.
As atividades favorecem a sociabilidade e vínculos para as que estão em isolamento social. O WhatsApp serve para encaminhamento rápidos de demandas e circulação de informações, e no Instagram se divulgam as atividades do projeto e ReCo. As atividades são incorporadas ao projeto Prosain e continuarão após o término na pesquisa.
A regularidade das ações da ReCo permite um reconhecimento entre todos os envolvidos nas atividades e torna os “ambientes mais confortáveis”, assim os relatos e expressão das opiniões ocorrem de forma mais “segura” – entre pessoas que convivem e se conhecem, e nos locais da ReCo, o que facilita o acesso e participação nas atividades ofertadas.


Conclusões/Considerações finais
As atividades oportunizam convivências ímpares para conhecer detalhes e especificidades dos diferentes perfis de participantes, identificar similaridades e diferenças importantes como: experiências com violências e conflitos familiares, violências, desrespeito aos direitos fundamentais, sofrimento psíquico (ansiedade e depressão) e as consequências das dificuldades de acesso aos serviços de saúde geral e mental.
A pesquisa-ação se mostra uma estratégia importante para a convivência e aproximação com as participantes-informantes, além disso, o “conviver” nos “espaços” da pesquisa, também são de sociabilidade, criação de vínculos-laços-afetos, o que nos leva a uma nova visão das possibilidades de “fazer” pesquisa na população do estudo.