01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO13.1 - Trajetórias de curricularizações |
47491 - MINHA NARRATIVA: A POTENCIALIDADE DAS PRÁTICAS EXTENSIONISTAS PARA A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA MEMÓRIA E A SOCIALIZAÇÃO COM A UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE.
LETYCIA SOUZA CAVALCANTI - UFRJ, NEIDE EMY KUROKAWA E SILVA - UFRJ
Contextualização
Considerando a magnitude da Covid-19 representando um importante marco, não apenas sanitário, mas para a humanidade, e que os idosos foram identificados dentre um dos grupos de maior vulnerabilidade à infecção pelo Coronavírus, está em desenvolvimento um projeto de extensão e pesquisa que busca resgatar as experiências de idosos com a pandemia de Covid-19, por meio de um trabalho de memória. Especialmente no Brasil, onde muitas mortes poderiam ter sido evitadas, observa-se investimentos nos chamados memoriais, enquanto uma iniciativa de reparação. No projeto em pauta, para além do dever de memória às vítimas do descaso por parte do governo, pretende-se facilitar processos que promovam reflexões e problematizações acerca dos diferentes contextos de vulnerabilidades que marcaram ou foram acirrados com a pandemia, oferecendo pistas sobre como mitigá-los ou evitá-los. Para tanto, parece oportuno não apenas ouvir as histórias dos idosos, mas contar com sua efetiva participação na construção da memória, por meio de narrativas, coadunando-se com as aspirações emancipatórias da extensão universitária. Pressupõe-se que o investimento e valorização das narrativas pode mediar aprendizagens mútuas, indo ao encontro de proposições mais recentes, de aproximação entre a universidade e a sociedade.
Descrição
O projeto de extensão “Minha Vida na Pandemia de Covid-19 - Memória de Idosos Durante a Emergência Sanitária da Covid-19” teve como referências a Educação Popular em Saúde e a Tecnologia Social da Memória, proposta pelo Museu da Pessoa, que propõe a construção, organização e socialização das histórias, em um processo de construção coletiva de conhecimento. O projeto de extensão consistiu em oficinas realizadas em diferentes locais do município do Rio de Janeiro, envolvendo 10 grupos e cerca de 50 participantes. No projeto, as extensionistas foram apresentadas as principais referências conceituais e as oficinas passaram por alguns pré-testes, antes de se chegar à estrutura final. Os registros escritos e de imagem foram armazenados, bem como as transcrições das histórias. No momento, o projeto está na fase de socialização das narrativas com os principais aspectos problematizados pelos participantes das oficinas, por meio de produtos de memória, como a exposição fotográfica e o resumo submetido 12ª Semana de Integração Acadêmica da UFRJ, ao qual foi concedido menção honrosa.
Período de Realização
1 ano.
Objetivos
Apresentar as potencialidades das narrativas de idosos para problematizar questões sobre o cuidado à saúde, no contexto da Pandemia de Covid-19, a partir de uma experiência de extensão universitária.
Resultados
No levantamento temático dos principais aspectos problematizados pelos participantes das oficinas, destacam-se alguns dos contextos que vulnerabilizaram e/ou vulnerabilizam o cuidado à sua saúde e transcendem a simples adesão às medidas sanitárias preconizadas, como: 1) a dificuldades para atender às medidas de isolamento social, como as referidas em um grupo de pessoas cegas que moram sozinhas; 2) a solidão de pessoas que não contam com familiares; 3) estigma e preconceito sofridos por pessoas que buscavam se proteger da Covid-19; e 4) impedimento de voltar para casa, imposta por uma patroa a empregada doméstica. Ao mesmo tempo, a pandemia também significou oportunidade para alguns dos participantes, como: 1) a possibilidade de se reaproximar do convívio familiar; 2) a conexão com outros grupos, como os vizinhos; 3) o exercício criativo para a composição de músicas; e 4) a experiência prazerosa de morar em outro município.
Aprendizados
Refletindo em aprendizados desde a capacitação para utilização da tecnologia social da memória, o estímulo à problematização do cuidado à saúde durante a pandemia de Covid-19 e a elaboração de produtos de memória para a socialização da memória viabilizando a interação entre a academia e a sociedade.
Análise Crítica
As memórias de idosos durante a pandemia de Covid-19 registradas em narrativas têm como potencialidades propiciar a identificação de contextos que vulnerabilizaram e/ou vulnerabilizam o cuidado à sua saúde, problematizando-se suas possíveis causas e abrindo-se possibilidades de reconfiguração dessas histórias. Do mesmo modo, possibilitaram visibilizar oportunidades surgidas durante o período de isolamento, não vislumbradas anteriormente. Todo o processo, envolvendo desde a capacitação dos extensionistas até a construção dos produtos de memória e sua socialização parecem aproximar-se dos horizontes éticos e políticos da Educação Popular em Saúde e dos trabalhos de memória afinados com a emancipação, individual e social. Dado que esse tipo de processo envolve muitas interações e ajustes, demanda muito tempo e disponibilidade dos envolvidos, despontando como um dos grandes desafios à curricularização da extensão nos cursos de graduação.
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