Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.1 - APS_ESF_ACS

47375 - A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE AGENTES COMUNITÁRIOS VINCULADOS A UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE FLUVIAL ATUANDO EM COMUNIDADES RURAIS RIBEIRINHAS NA AMAZÔNIA
MARIANA BALDOINO - ILMD/FIOCRUZ, LUIZA GARNELO - ILMD/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
A pesquisa analisa a organização do trabalho de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que atuam em comunidades rurais atendidas por Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF). São restritos os estudos sobre ACS que atuam em contextos rurais, em particular nos espaços amazônicos (Lima et al., 2021; Fausto et al., 2022). Na Amazônia a diversidade dos espaços e as singularidades de sua sociodiversidade coexistem com elevados indicadores de vulnerabilidade social e sanitária e com distribuição limitada de serviços de saúde.

Objetivos
Refletir sobre atividades e desafios cotidianos dos Agentes Comunitários de Saúde que atuam em UBSF, a interação com as famílias atendidas, os vínculos com as comunidades e com o ambiente natural, configurados como laços que expressam apego ao lugar.

Metodologia
Pesquisa qualitativa realizada em 17 comunidades rurais ribeirinhas localizadas na margem esquerda da calha do Rio Negro, até o limite entre os municípios de Manaus e Novo Airão, Amazonas. Todas as localidades pesquisadas possuíam acesso estritamente fluvial. Coleta de dados contou com aplicação de questões escalonadas de Apego ao Lugar; entrevista semiestruturada e observação participante, visando apreender interligações entre as práticas do trabalho e relações mais gerais que vinculam trabalhadores com a política de saúde e de atenção básica. Foi investigada a vida fora do trabalho como detentores de práticas cotidianas de lazer, de consumo, produção rural e vida familiar, mediante as quais moldam redes de poder nos locais onde vivem e buscam conduzir satisfatoriamente seus interesses e trajetórias individuais ou coletivas (Guerra, 1993). Entrevista semiestruturada e observação incluíram a descrição de rotinas e tarefas realizadas pelos ACS; movimentação e condições de trabalho no território; interação com a comunidade e outros profissionais da UBSF; autoavaliação sobre o trabalho realizado e importância atribuída a ele pela comunidade e identificação de atividades prescritas e não-prescritas realizadas pelos ACS na comunidade; visitas domiciliares via terrestre e fluvial e a participação dos ACS no atendimento feito pela UBSF na comunidade

Resultados e discussão
Resultados evidenciaram que a qualificação dos ACS atende às principais demandas do trabalho cotidiano. O tempo de experiência mostrou-se relevante no cargo, indicando robusto conhecimento da natureza e apego ao lugar/comunidade, estabelecido por vínculos de parentesco, identificação ou adaptação à região. Eles reconstroem práticas intersetoriais, priorizando intervenções associadas aos determinantes sociais, micropolíticos e culturais do processo saúde-doença e à participação na vida comunal. O trabalho administrativo intramuros foi interpretado como desvio de função e afastamento das interações cotidianas nos domicílios, gerando insatisfação e desmotivação desses trabalhadores. Já o trabalho extramuros foi valorizado, em particular por propiciar o fortalecimento de vínculos com as famílias das áreas de abrangência. Os insumos disponibilizados pela secretaria de saúde são insuficientes para realização das tarefas e os ACS arcam com parte expressiva do custeio dos deslocamentos fluviais para desenvolver suas atividades. Embora moldado pelos cuidados biomédicos o modo de ação dos ACS rurais ribeirinhos cria uma rotina fluida de trabalho, que expressa autonomia, criatividade e capacidade de adaptação para amenizar as difíceis condições de trabalho e ampliar a resolutividade em sua atuação cotidiana. Dentre as atividades não prescritas pela Secretaria de Saúde destaca-se um amplo conjunto de ações intersetoriais, como promoção do lazer, mutirões de limpeza, melhoramentos em instalações físicas de relevância para a vida comunitária como gerador, escolas, posto de saúde e outros, que resultam em melhoria das condições de vida no local. Tais ações são desenvolvidas pelo ACS em decorrência de sua inserção como membro adulto pleno da comunidade e obrigações junto ao seu grupo de parentesco e de convivência comunal. Embora resultem, direta ou indiretamente na promoção da saúde, não são reconhecidas e nem chanceladas pelos gestores de saúde.

Conclusões/Considerações finais
A mediação exercida entre o trabalho em saúde e as relações de poder na comunidade é tensa, transitando entre os interesses locais, a disponibilidade da equipe da UBSF e as normativas da Secretaria de Saúde, vistas, não raro, como obstáculos à realização de um trabalho eficiente e de uma resposta mais próxima às necessidades dos usuários. A interação entre ACS e profissionais da UBSF é considerada satisfatória. A articulação entre ambos os grupos profissionais é frouxa e a força de trabalho dos ACS é subutilizada, em particular não sendo acionada para garantir continuidade do cuidado mas comunidades, visto que o regime de atendimento da UBSF itinerante limitando-se a um atendimento mensal por comunidade.